sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Minha Nova vida de...Humana!

       OK, pra começar, não tenho muita certeza do porque criei esse blog.

      Eu nunca tive muita ligação com computadores, sabe? Só conheci um quando tinha uns dez anos de idade, quando uma criada da minha mãe trouxe um negocio esquisito lá pra casa... Qual era o nome mesmo? Ah! Notebook. Eu lembro que fiquei fascinada por ele, e quando descobri o Microsoft Word, passei várias tardes digitando coisas sem sentido. Depois, ele perdeu a bateria e nunca mais o usei.

      Você deve estar perguntando:
     "Então por que você não foi simplesmente comprar mais baterias?"
     Bom, eu até queria saber como consertá-lo, mas os humanos iriam ficar muito surpresos e talvez apavorados se vissem uma menina com pequenos chifres de cervo e pernas de corça pedindo informações.          É, eu sou assim.

     Nasci em Deerpoliah, um  reino encantado escondido dos humanos, onde habitam belas mulheres-corças, metade humanas, metade corças. Somos espécies de ninfas das florestas, sempre existimos. Os humanos da América do Norte tinham muito medo de nós, costumavam achar que eramos como "sereias das florestas", atraindo-os para as árvores para serem devorados. Bom, na verdade, a parte da "devoração" existe, mas eram só em casos de extrema necessidade. Sabe, corças também tem TPM.

      Ótimo, já falei sobre mim, mas não disse o que estou fazendo aqui, no mundo da Internet.
  Vou começar por hoje:

      Minha mãe mandou-me para essa escola, só por experiência.
      Nossa, as roupas são tão esquisitas! E pinicam muito no corpo! Prefiro os meus lindos maiôs cor de esmeralda. Quando chegou a hora de ir, senti um grande frio na barriga. Eu nunca havia saido da floresta. Tá, mentira, já sai algumas vezes, mas foi só pra dar uma espiadinha rápida nos humanos, mas não gostei de jeito nenhum. Então, antes de sair pelo portão principal do castelo real, virei para minha mãe, tentando fazer a carinha de corça desamparada pra fazer ela se derreter todinha e não me deixar ir até lá.
       -Mamãe! Por favor, eu não sei se estou preparada pra...
       -Eu acho que está mais do que preparada para isso, Veedah Califah. -Minha mãe falou, olhando impiedosa para mim. Grr, ODEIO quando ela fala meu nome completo, dá vontade de gritar.
        -Eu nem sei como me comportar num colégio humano! E se eles não gostarem de mim? E se por acaso descobrirem os meus cascos e...
        -Querida, não irão descobrir os seus cascos. Você pode se transformar em uma garota humana. Volte a ser corça somente quando achar realmente necessário. - Minha mãe falou. Dei um suspiro. Até parece que minha mãe muda de opinião facilmente. É ruim, hein!
         -Pode ir com sua tia, Jordanna. Ela não vai te perder de vista e vai te dar segurança. - Assim que ela falou, minha querida tia Jordy apareceu, e pegou em meu ombro. Ela era a unica que me entendia.
         -Boa sorte, minha filha. Que a magia esteja ao teu lado. - Dizendo isso, minha mãe me beijou na testa e no mesmo instante me transformei em humana, com pernas peladas e sem cascos, como uma garota comum. Tive vontade de subir a calça jeans que as cobria para olhá-las, mas minha tia me puxou com força.
          -Vamos, já está atrasada! - Ela falou. Minha mãe e minha tia não eram muito parecidas: Minha mãe era esbelta, alta, loira e de longas maças do rosto, enquanto tia Jordy era gordinha, ruiva e com algumas sardinhas. Uma fofura. Ela sempre fora uma segunda mãe pra mim, já que minha mãe de verdade sempre esteve ocupada com assuntos do reino, e coisas assim.
           Caminhávamos pela floresta, quase chegando à fronteira com a cidade. Bom, na verdade, parte da floresta entrava na cidade, então praticamente já estávamos lá. Minha respiração estava pesada, meu coração pulsava rápido e... Nossa, como era estranho andar em... Como é mesmo o nomes? Pés!
           Eles são achatados, tem...Um...Dois...Três... Dez coisinhas muito esquisitas e... Nossa, são MUITO FEIOS! Urgh! Prefiro mil vezes meus cascos prateados, que podem colocar ferraduras coloridas e fitinhas de cetim.
           -Tia, eu não quero ir! Por favor, não me leve até...
           -Veedinha, que é isso? Nós já te ensinamos TUDO sobre o mundo dos humanos. Eles são egoistas, mesquinhos, safados e nojentos. Mas também são muito carinhosos e divertidos! Vamos, sei que você vai adorar viver com eles.
            -Você já fez isso, por acaso? - Eu perguntei. Aposto que...
            -Sim, já. Eu não era nem uns aninhos mais velha do que você, tinha uns dezenove anos, você tem quinze...
            Nossa, essa eu não esperava. Ela nunca havia me dito nada parecido!
            -Eu fui conviver com humanos num lugar parecido com colégio, só que um tanto mais... Como posso dizer...Liberal. A faculdade. Nossa, quanta selvageria! Pareciam mais uma daquelas festas que os sátiros fazem toda sexta feira!
             Ou seja, muita bebedeira, muita sacanagem e muita droga também.
             Após alguns minutos andando, chegamos à fronteira. Passei pelos arbustos e olhei para trás. Minha tia me olhava, triste. Ah, não. Ela ia começar a chorar.
             -Desculpe, é que... Te conheço desde menininha! Agora vai para o Ensino Médio! Que emoção! - Ela soluçou, pegando uma folha de uma arvore e assoando o nariz com um barulhão.
              -Ok, não quero ser o centro das atenções. Tchau, tia.- Eu disse, começando a andar pela calçada.
              -Tchau, meu bem! Qualquer coisa grite!
               -Aham, vou muito... - Sussurrei para mim mesma. Segui pela estrada de concreto, me assustando toda vez que um carro passava zunindo perto de mim no asfalto. Olhei para frente e comecei a ver prédios e algumas casas. Bem à minha frente estava o colégio que minha mãe me mostrara uma vez, com uma grande bandeira do... Er... Estados Unidos. Eu tinha que entrar lá, procurar minha sala e assistir todas as aulas, e quando sentisse fome, comer um lanchinho dos humanos, que dizem ser muito gostoso. Não parece ser dificil. Porém, percebi que tinha que atravessar a rua. Cheia de carros.
              Então, corri e pulei, como se meus cascos ainda estivessem ali. Dei mais um pulo entre os carros, que buzinaram ferozmente para mim, e finalmente alcancei a calçada.Ufa! Agora, precisava entrar no colégio. Peguei a mochila que minha tia me dera, com alguns livros e cadernos, e segui para dentro do portão. Dentro, vi vários adolescentes, aproximadamente da minha idade, todos conversando com alguns dos seus. Olhei para o papelzinho indicando a secretaria. Lá, uma senhora bastante simpática com coisas esquisitas na frente dos olhos me cumprimentou, e me levou até meu armário. Ela também me deu um papelzinho com todas as minhas aulas daquele dia. Não pareciam tão mal. Tinha Artes e História. Sempre adorei conhecer a História de outros povos. Também tinha Matemática, que até que é legal. Uma corça precisa saber matemática se quiser caçar ou apostar corrida pelos campos.
       Fui até meu armário e vi uma combinação de números enormes.
       -Mas que pedaço de musgo é esse? - Eu perguntei para mim mesma.
       -É a combinação do seu armário. Quer que eu abra pra você?- Uma voz grossa e doce falou atrás de mim. Acho que "perguntei pra mim mesma" um pouco alto demais. Virei-me para pedir para que aquela alma caridosa fizesse mesmo aquilo mas... As palavras sumiram.
     
          Santa Diana, Deusa da Caça, que homem era aquele! Aquele sorriso quase me faz soltar um gemido de corça nada atraente. E aqueles olhos, tão negros e profundos como cascas de árvores...E o cabelo tão loiro como o sol nascendo sobre as montanhas! Nossa, que visagem!
           -A ai, vai querer ou não? - Ele perguntou, estranhando o fato de eu estar encarando que nem uma bezerra desmamada. Balancei a cabeça.
           -Ah, sim, sim, obrigada. - Eu disse, e lhe entreguei o papel. Ele olhou rapidamente e girou o trinco giratorio, abrindo com facilidade meu armário.
           -É facil! Só duas voltas pra esquerda,uma para a direita e outra pra esquerda de novo. - Ele disse, sorrindo.
            -Bom, err... Obrigada de novo. Eu nunca tinha usado um desses e...
            -Espera ae! Você nunca usou um armário de escola? - Ele perguntou, parecendo incredulo. Ops, será que falei a coisa errada? Eu seria taxada como completa esquisita e aberração se dissesse que "sim"? Arrisquei:
           -É, eu estudava em casa, minha mãe contratava uma professora particular. - Respondi, esperando que ele não saisse correndo de perto de mim, achando que eu era uma louca confinada em casa.
           -Sério? Deve ser muito legal estudar sozinha, sem ninguém pra encher o saco, fazer piadas, bullying! - Ele falou, entusiasmado. Não pude evitar de sorrir de volta. Ele era tão simpático.
           -Eu sou o Mike. Qual seu nome? - Ele perguntou.
           -Veedah. - Respondi.
           -Vida? É mesmo seu nome? - Ele perguntou, parecendo confuso.
           -Ah, não, não- Eu respondi rindo - É como se pronuncia, mas se escreve com Vê-É-É-Dê-Á-Agá.
           -Humm... Nossa, nome diferente. Legal! - Ele disse, sorrindo. Nossa, que garoto lindo e doce! Eu queria dar um abraço nele, só pela imensa fofura. Mas, como todo doce acaba, ouvi um barulho estridente soando pelas paredes. Soltei um grito agudo e alto, tipico de uma corça sendo atacada. Me encolhi toda no chão, olhando assustada para os lados.
           -Veedah! Tá tudo bem? - Mike perguntou.
           -Esse barulho! O que tá havendo? - Perguntei, sentindo minha mão tremer. Percebi que Mike se esforçou pra não cair na gargalhada.
           -Isso é o sinal da escola, quer dizer que as aulas vão já começar. - Ele falou. Nossa, não acredito! Como sou retardada. Foi ai que olhei pro lado e vi:
          Todo mundo, tipo, TODO MUNDO, estava olhando para mim, naquela hora. Que vergonha...
           -Quer que eu te leve pra sua primeira aula?- Ele perguntou. - É Geografia, fazemos na mesma sala.
           Nossa, que noticia ótima! Pelo menos teria alguém pra perguntar alguma coisa.
           -Seria ótimo! - Eu disse.
           Ele andou junto de mim, e percebi que ele quase encostava em minha cintura, mas deve ter achado que eu me incomodaria. Ah, querido, por mim você poderia pegar na cintura, perna, coxa, braço, TUDO que tinha direito.
           Foi ai que chegamos à sala...
                     
    CONTINUA
       
       

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